
Maternidade, o Patriarcado, questões de Gênero e Políticas Governamentais.
Atualmente vivo a maternidade, a maternidade real, não a romantizada, e como Psicóloga e Coach de Carreira, algumas questões estão ainda mais vivas e venho compartilhar com vocês, vale a reflexão!
Algo que sempre observei nos atendimentos de Coaching, mais especificamente com as mulheres, foi o tema Carreira x Maternidade. É a mesma preocupação da maioria das mulheres que iniciam sua vida profissional e que também pensam em serem mães.
Vamos refletir sobre a atual divisão sexual do trabalho, sim sexual, a ideia de que existem funções “de mulher” e “de homem” na nossa sociedade, assim como os salários. Ser mãe, cuidar dos filhos e da casa são atribuições socialmente femininas, enquanto fazer consertos na casa, garantir o sustento e ser provedor da família seriam tradicionalmente tarefas masculinas. Conceitos que vêm caindo por terra, graças a Deus!
E ao longo dos atendimentos, coachees mães e coachees não mães, fui percebendo que se tornar mãe ainda é um entrave para as diferentes profissões existentes no mercado privado e no mercado público.
O crescimento profissional feminino enfrenta vários obstáculos e costuma passar por uma redução de velocidade após a maternidade, em alguns casos, chega até mesmo a estagnar completamente, com a saída dessa mulher do mercado de trabalho.
Tais obstáculos são constantemente mascarados por preconceitos sociais e reproduzidos diariamente, muitas vezes até inconscientemente pelas pessoas que compõem uma organização.
Por exemplo, a partir do momento em que se tornam mães, as mulheres passam a ter horários de chegada e saída no trabalho mais rígidos, pois normalmente se adequam à rotina das crianças. Além disso, a possibilidade para viagens se reduz e a disponibilidade para levar trabalho para casa também. Todas essas mudanças podem ser interpretadas pela chefia e pela equipe como motivos para queda no rendimento profissional, justificando uma estagnação na carreira e dificultando uma promoção.
Já repararam que, quando os homens se casam e têm filhos são considerados profissionais mais confiáveis? Pois, teoricamente, possuem uma família para sustentar e não tomariam decisões arriscadas. Quando a mulher se casa, os comentários mais comuns são “em breve ela vai querer ter filhos, quem vai ficar no lugar dela?”. E, com a chegada da maternidade, passam a ser tratadas como profissionais menos produtivas, pois passarão noites em claro, precisarão levar os filhos ao médico, dentre outros “problemas de mulher”, como costumamos ouvir.
Na realidade, essa exclusão e mudança de tratamento em relação às mães são grandes injustiças. O principal motivo para isso está relacionado à acumulação das responsabilidades de cuidados com os filhos pela figura feminina. Se pai e mãe compartilhassem essas tarefas, talvez os impactos nas carreiras fosse menor e todo o ambiente de trabalho poderia ser mais compreensivo com casais (e não só mulheres) que acabaram de ter filhos.
Algumas mulheres adiaram a maternidade, ou seja, preferiram se dedicar profissionalmente para depois serem mães, quase aos 40 anos. Ou foram mães muito jovens e precisaram abdicar de tempo com seus filhos nos primeiros anos de vida para conseguir ascender na carreira. Ou seja, programar e organizar cada passo, na medida do possível, é um caminho adotado pelas mulheres que querem continuar a trabalhar e não abrem mão de serem mães.
Essa seria uma estratégia positiva, relacionada ao planejamento familiar, se de fato fosse compartilhada entre homem e mulher. Hoje, somente a maternidade é planejada, como um fenômeno que, se acontecer fora de hora, pode se tornar um “fardo”. Ao contrário, quando a paternidade acontece, em casais estáveis, é, na maioria das vezes, bem-vinda e bem vista socialmente.
Outra coisa que percebi é que o fato de que, quem tem uma carreira pública, ou seja, estabilidade, se sentem mais tranquilas. Poder sair de licença e retornar ao trabalho sem o medo de ser demitida.
Não é o que acontece no mercado privado, algumas empresas tratam as mães de forma muito cruel, que se sentem culpadas de se afastarem de suas funções para cuidarem de seus filhos. Nesse ponto da discussão, já podemos ver como a lei brasileira contribui para que a obrigação de cuidar da criança não seja compartilhada, já que a licença paternidade é muito menor.
Além disso, uma estratégia comum é: a terceirização das tarefas domésticas. Isso significa ter outras mulheres em casa para executar as atividades de cuidado com o lar e com os filhos, como lavar e passar as roupas, cozinhar, limpar, entre outras atividades.
Mas por que esse fenômeno traz preocupações para a discussão de gênero?
Primeiro, porque ele reforça a desigualdade de classe social, na qual somente as mulheres que possuem condições financeiras muito confortáveis conseguem custear alguém para trabalhar em casa. O que também é uma condição rara, já que sabemos que os maiores salários do mercado, são pagos aos homens. O segundo motivo é que a terceirização das tarefas domésticas reafirma que aquelas atividades precisam ser realizadas por uma figura feminina, seja ela a mãe ou alguma outra mulher contratada.
É aí que mora o problema. A maioria das mulheres permanecem carregando a responsabilidade exclusiva de tomar conta de tudo que acontece no ambiente doméstico. E, ainda que esse trabalho seja transferido para outra mulher contratada, a gestão da casa ainda é realizada por ela.
Finalmente, percebi que a discussão sobre maternidade é extremamente complexa e transita por diferentes esferas da sociedade. É uma mistura entre vida profissional, pessoal, conjugal e também um fenômeno que sofre interferência direta de ações governamentais.
Acredito que, para caminharmos rumo a uma equidade plena entre mães e pais, principalmente em relação às trajetórias e decisões em suas carreiras, serão necessárias mudanças na legislação trabalhista, mais políticas públicas para a família, desconstrução cultural das expectativas sociais relacionadas aos gêneros e uma nova divisão das tarefas domésticas entre as pessoas que habitam a casa, não mais somente entre as figuras femininas.
E além disso, a boa notícia é que existe um mundo de possibilidades e campos de atuação, tais como: autônomo, empresa privada ou pública, própria empresa ou empreender. O válido é curtir a maternidade, esse momento único e divino em nossas vidas, descansar quando possível e produzir conteúdo útil para compartilhar!
Um forte abraço da Raque Coach!
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@raquelinebenchimolcoach